Clinica Veterinária de Mangualde
Dr. Benigno José Rodrigues
Dra. Sandra Oliveira
CUIDADOS
DE HIGIENE NO CÃO E GATO
Os
animais de estimação dão-nos muito carinho e proporcionam-nos momentos de
alegria e felicidade nas nossas vidas. No entanto, podem ser portadores de
agentes patogénicos, capazes de transmitir a outros animais e a nós humanos uma
série de doenças.
A
alimentação tem aqui um papel importante. Recomenda-se uma dieta à base de
ração de boa qualidade e evitar alimentos crus.
Por
forma a prevenir o aparecimento de doenças, algumas delas zoonoses (doença
transmitida ao Homem por outro animal) é importante proporcionar uma boa
higiene da cama do animal, do espaço onde come, bebe e das zonas onde urina e
defeca. Além disso, também é importante manter uma contínua higiene do cão ou
gato, sobretudo da pele, olhos, boca e ouvidos.
Parte I –
Higiene da pele e do pêlo: o banho e a escovagem
Ø Porque a pele necessita de cuidados específicos?
Particularidades
da pele dos nossos animais:
A
pele dos cães e gatos é diferente da nossa: é mais fina e apresenta um pH
distinto. Consequentemente sofre de um maior número de infecções.
Apresentam
uma secreção sebácea muito importante para o equilíbrio da sua pele, e que contribui
para uma boa hidratação e controlo da flora bacteriana.
Por
último, a grande maioria está protegida por uma densa camada de pelo, que pode
facilmente sujar-se ou abrigar parasitas.
É
por estas razões que a pele e o pelo dos nossos animais de estimação necessitam
de cuidados particulares: uso de champôs que respeitam as especificidades da
sua pele e pelagem, escovagem e lavagem regular.
A
primeira pista de que algo não está bem com o nosso animal é, efectivamente, um
problema na pele. Não conseguimos olhar para dentro deles, mas a pele, o maior
órgão do corpo, avisa-nos frequentemente de que existe um problema com origem
na pele ou o reflexo de uma doença interna.
A
pelagem reflecte o estado de saúde geral e o nível nutricional do animal.
O
pêlo protege a pele de lesões externas e funciona como isolamento térmico. Para
mantê-lo brilhante e saudável é necessário ter cuidados especiais, que passam
pela escovagem, banho e tosquia.
Ø A muda de pêlo sazonal
A
queda de pelo é um fenómeno fisiológico inevitável que ocorre nos cães e gatos.
Há uma queda de pêlo muito exuberante na Primavera e outra mais discreta no
início do Outono para renovar a pelagem para melhor adaptar-se às variações de
temperatura conforme a estação do ano.
Contudo,
nas nossas casas bem aquecidas e iluminadas dia e noite, os ritmos naturais
desaparecem e os animais têm tendência para apresentar uma muda contínua ao
longo de todo o ano. Isto acontece porque o ritmo de renovação do pelo é
influenciado entre outros factores, pela temperatura ambiente, sendo a queda de
pêlo mais evidente nos períodos de calor e de maior exposição à luz.
Daí
é normal que nos animais que vivem dentro de casa que a muda se faça de uma
forma mais gradual, perdendo pêlo ao longo de todo o ano, pouco de cada vez. O
contrário ocorre nos animais que vivem no exterior, em que a muda de pêlo
ocorre de uma forma mais intensa e num menor período de tempo.
Se
mesmo assim, o seu animal continuar a ter uma perda exagerada de pêlos partidos
ou arrancados por um coçar ou lamber intenso, ou porque não voltaram a crescer,
torna-se necessário consultar o seu Médico Veterinário.
Ø O banho
O
banho é um procedimento importante para a higiene do seu cão ou gato e geralmente
é apreciado pela maioria dos animais e respectivos proprietários.
Aconselha-se
a dar banho aos animais de estimação periodicamente em função da sujidade, do
tipo de pêlo e raça.
·
Nos cães:
- Um
cão que vive no campo, mas que passeia por caminhos enlameados, necessita
também de banhos frequentes.
- Um
cão de pelo comprido deve ser lavado com mais frequência do que um de pelo
curto.
- Os
animais com problemas dermatológicos crónicos (por exemplo: seborreia, atopia)
podem precisar de banho com frequência mas deve seguir as recomendações do
Médico Veterinário.
Os
banhos não devem ser muito frequentes. Evite dar mais do que uma vez por mês. Os cães têm uma pele fina e a
contínua remoção dos óleos naturais pode produzir secura, irritação e facilitar
a invasão de agentes infecciosos.
Caso
dê banho ao seu animal com muita frequência (por exemplo: mais do que uma vez
por mês), por causa do cheiro, é aconselhável usar um champô suave e hidratante
para compensar a perda das indispensáveis “gorduras cutâneas”. Se mesmo assim
ele continua com cheiro, deve ser observado por um Médico Veterinário.
Evite
os banhos para matar as pulgas e carraças. Hoje me dia, existem métodos mais
eficazes e menos penosos para resolver este problema.
Os
banhos secos com produtos à base de talco poderão ter a sua utilidade,
reduzindo a frequência do uso de água e libertam o cão de alguma sujidade, mas
não substituem o tradicional banho com champô e água que continua a ser o meio
mais eficaz de limpar o pêlo do seu cão.
·
E nos gatos?
Os
gatos são extremamente cuidadosos
com a sua higiene pessoal, lavando-se quando se lambem, pelo que, um gato
saudável normalmente não precisa de banho.
A
maioria dos gatos gosta de brincar com a água, mas no que toca a tomar banho a
situação é bem diferente. Tomar banho pode ser uma verdadeira tortura para o
gato e para o dono também que não sai de lá sem levar com umas arranhadelas.
Portanto é de evitar. O mais importante é fazer uma boa escovagem do pêlo.
Quando um gato não trata da sua
higiene, é sinal de que algo não está bem, devendo levá-lo ao Médico
Veterinário.
·
Que champô usar?
Use
um champô específico para cães e gatos. Não utilize sabão ou produtos
para pele humana porque são demasiados ácidos e irritam a pele. O pH da
pele do animal é tendencialmente neutro (pH 7) ao contrário do humano que é
ácido (pH 5).
O uso frequente de champôs
inadequados conduzirá a um pêlo mais fraco, quebradiço e baço e intensificará a
descamação (caspa), podendo levar a uma doença de pele.
NÃO É ACONSELHÁVEL DAR BANHO AOS
CACHORROS OU GATINHOS ANTES DE ACABAR O PROGRAMA DE VACINAÇÃO.
Os
cachorros só devem tomar banho 15 dias após a vacina da Raiva. Se entretanto
ficar sujo, pode limpá-lo com toalhetes ou usar um champô seco.
·
Durante o banho é importante que:
- A temperatura da água não
seja inferior à temperatura corporal. Use água morna com uma temperatura
constante.
- Se evite que a água entre
nos ouvidos dos animais para evitar otites.
- Se evite o contacto do
champô com os olhos dos animais.
- Após o banho o animal
deve ser bem seco. Evite lavá-lo se posteriormente ao banho for exposto ao frio
ou à chuva.
·
Para dar banho é fundamental que siga
alguns passos importantes:
1. Material necessário: escova, banheira, tapete antiderrapante, champô adequado e toalha.
2. No caso do gato feche a divisão onde
vai dar banho para ele não fugir.
3. Escove a pelagem cuidadosamente antes do banho para retirar o máximo de pêlos
mortos e desembarace o pêlo para tirar os nós. Se não desembaraçar o pelo
antes, depois do banho torna-se quase impossível.
4. Molhe inteiramente o pêlo com água morna no chuveiro ou numa bacia. Evite projectar a
água para os olhos e orelhas. Os gatos não gostam de sentir a cabeça molhada.
Pode colocar no fundo da banheira um tapete
antiderrapante para impedir que o cão/gato escorregue.
5. Aplique o champô espalhando por todo o corpo. Massaje suavemente nos gatos e cães
de pelo curto e energicamente nos cães de pelo comprido até ao aparecimento de
espuma. Não esqueça a zona ventral e as patas. Deixe actuar durante 10-15 minutos.
6. Enxagúe abundantemente com água morna. Insista nas zonas que apresentam lesões. Se
necessário pode repetir a aplicação do champô.
7. Envolva o animal numa toalha (quente se possível) para secar. Em seguida pode usar o secador de cabelo regulado para pouco calor.
Se o cão/gato se assustar com o secador de cabelo, deixe-o secar completamente
num local quente sem correntes de ar. Evite o uso excessivo de secadores,
especialmente se a pele estiver seca ou inflamada. Se o secador estiver a emitir ar muito quente e se tiver em contacto com a
pele muito tempo pode queimá-la.
8. Finalmente escove-o.
O
banho deve ser uma experiência agradável para que o seu animal não fique
traumatizado.
Os
cuidados regulares com a pelagem são fundamentais, uma vez que ajudam a
promover a saúde da pele e da pelagem e a reforçar a ligação afectiva entre o
animal e o dono. Se
os cães e gatos forem habituados a ser escovados desde tenra idade, acabam por
gostar. Por isso, nunca é tarde para iniciar os cuidados com a pelagem.
Ø A inspecção e a escovagem da pelagem
É
recomendável inspeccionar a pele e a pelagem do seu animal, pelo menos uma vez
por semana (ou após cada passeio) à procura de:
o
Parasitas
(carraças, pulgas e piolhos)
o
Resíduos
vegetais aderentes ou que picam (sementes, praganas)
o
Inflamações,
crostas, falhas de pêlo.…
A escovagem não é um luxo. Serve para retirar os pêlos mortos, desembaraçar o pêlo, arejar
a pelagem e estimular a circulação sanguínea ao nível da pele. Evita a formação
de nós ou tufos de pêlo emaranhados, que, para além de causarem enorme
desconforto, promovem a sujidade e a presença de parasitas. E estimula a
renovação do pelo e espalha os óleos naturais da pele por todo o corpo, obtendo
assim um pelo brilhante e saudável.
A
escovagem é um dos cuidados mais elementares a ter com o pêlo, especialmente em
raças de pelo comprido ou encaracolado. Se for feita regularmente (1 a 2 vezes
por semana) é a forma mais eficaz de manter o seu animal limpo e livre de
cheiros.
Durante
os períodos de muda do pelo, deve escová-lo mais vezes.
A
escovagem deve ser feita inicialmente no sentido contrário de pêlo para remover
os pelos mortos e acabar no sentido de pelo com a aplicação de sprays
específicos humectantes da pele ou compressas húmidas para dar brilho. Deve
usar sempre um pente e escova próprios para animais, independentemente do
comprimento de pêlo.
Se
possui vários animais, atribua a cada um o seu material, para evitar a
transmissão de um eventual problema de pele.
A escovagem diária de alguns minutos
evita que mais tarde gaste horas de escovagem para desembaraçar uma pelagem mal
cuidada ou até a tosquia completa se o pelo estiver demasiado embaraçado.
A escovagem nos cães:
Para o fazer utilize os instrumentos
e a frequência que melhor se adaptem às características de pele e pelagem do
seu animal:
o
Cães de pêlo curto (ex: Dálmata, Boxer, Doberman, Galgo, Beagle, Retrivier de Labrador,
Chihuahua, Pug carlin, Dogue Alemão): usar pente ou luva de borracha a cada 1-2
semanas.
o
Cães de pêlo semi-longo, duro ou lanoso (ex: Cocker Spaniel, Teckel, Fox terrier, Yorkshire
terrier): pente + cardadeira 1 a 2 vezes por semana.
o
Cães de pêlo longo (ex: Pastor Alemão, Serra da Estrela, Husky, Samoiedo, Pequinois,
Bichons) e encaracolado (ex: Caniches): pente + cardadeira a cada 2 dias ou
todos os dias.
A
frequência de escovagem além de ser determinada pelo tipo de pelagem também
depende do modo de vida do cão: os cães que vivem no exterior, em contacto com
plantas e terra devem ser escovados mais vezes que os que não saem dum
apartamento.
Cuidados a ter nas patas dos cães:
A
verificação regular das patas do animal deve constituir um hábito, pois permite
verificar lesões, presença de corpos estranhos e o estado das unhas.
O seu cão pode ter ferimentos interdigitais
que podem complicar-se em infecções com alguma gravidade por causa da
introdução de praganas.
É
importante manter as zonas interdigitais das patas dos cães livres de nós e de
pelos deteriorados de modo a que não interfira ou incomode o livre andamento do
cão.
A escovagem nos gatos:
Os
gatos de pêlo longo, como os Persas, devem ser escovados diariamente, enquanto que
os gatos de pêlo curto, uma a duas vezes por semana.
Além
do aspecto estético, a escovagem feita de forma regular irá diminuir a
quantidade de pêlos que o gato engole ao lavar-se (lamber-se) e,
consequentemente evitará a formação de bolas de pêlo no estomago, um dos
problemas frequentes nestes animais.
Habituar
o gato a cuidados de higiene regulares, felicitando-o pelo bom comportamento,
oferecendo-lhe no fim uma guloseima ou dando miminhos, constitui a chave para o
sucesso.
Ø As bolas de pêlo
Os
gatos, graças à superfície áspera da sua língua possuem uma ferramenta muito
útil para a manutenção da pelagem uma vez que ordena e areja ao remover os
pêlos mortos. A maior parte destes pêlos é ingerida pelo gato e chegando ao
estômago podem originar as bolas de pêlo.
Normalmente,
os pêlos ingeridos são eliminados nas fezes do animal. No entanto, quando são
ingeridas grandes quantidades de pêlo morto, este acumulam-se no estomago dando
origem às bolas de pêlo (tricobezoares). De forma natural os gatos podem
regurgitar as bolas de pêlo. Também pode acontecer atravessarem o piloro e
chegarem ao intestino e provocar uma oclusão intestinal, cuja resolução
possível é a cirurgia.
Para
prevenir a formação destas bolas de pêlo, recomenda-se:
- Dietas comerciais específicas que
melhoram o trânsito digestivo: favorecem a circulação dos pêlos através do
intestino e depois a sua evacuação nas fezes;
- Produtos em pasta oral á base de
malte que facilitam o trânsito intestinal.
(Continua
na mensagem seguinte do blog)
Artigo escrito por Sandra Oliveira – médica veterinária (CP
4910)
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