sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

INTOXICAÇÃO POR PERMETRINA NO CÃO E GATO

Clínica Veterinária de Mangualde
             Dr. Benigno Rodrigues
             Dra. Sandra Oliveira






INTOXICAÇÃO POR PERMETRINA NO CÃO E NO GATO

Os parasitas externos como as pulgas e as carraças podem causar um grande incómodo para os animais de estimação e tornarem-se numa verdadeira dor de cabeça para os seus donos. Além de infestarem o animal, causarem-lhe mal-estar e transmitirem-lhe doenças, também depositam milhares de ovos no ambiente. Fica não só o animal infestado como também tudo á sua volta.
O recurso a produtos insecticidas para o controlo de parasitas externos nos cães e gatos é frequente, considerando que actualmente estão disponíveis diversos medicamentos/ produtos de uso veterinário, de venda não sujeita a receita médica, nos Centros de atendimento médico-veterinário (CAMVs), além das farmácias e lojas de animais.
Assim de modo acessível e pouco dispendioso, os donos podem comprar produtos de aplicação simples e rápida que assegura eficácia no controlo de pulgas, piolhos, carraças, moscas e mosquitos. Estes produtos estão disponíveis sob diversas formas: spot-on (pipetas), coleiras, sprays, pós e champôs.
Muitas destas formulações veterinárias indicadas como insecticidas para o controlo de pulgas, carraças e piolhos nos animais domésticos, contêm na sua constituição piretrinas ou piretróides (compostos sintéticos derivados das piretrinas). Os piretróides mais usados são a permetrina, a cipermetina e a deltametrina.
A permetrina está presente em vários produtos comerciais, sendo os mais conhecidos o Pulvex® e o Advantix® em forma de unção punctiforme (pipeta), e a deltametrina na coleira Scalibor®. Estes três produtos em particular destinam-se apenas a cães, estando contra-indicado o seu uso em gatos.

  •     Toxicidade da permetrina nos cães e gatos
Os casos de intoxicação por permetrina são mais frequentes na espécie felina que na canina.
Nos cães estes produtos têm uma grande margem de segurança, com um risco relativamente baixo de ocorrência de efeitos adversos, já nos gatos os produtos/medicamentos formulados exclusivamente para cães, podem ser fatais.
Os gatos e em especial os mais jovens têm uma grande sensibilidade à permetrina, porque, devido á sua fisiologia particular, são incapazes de a metabolizar no organismo. Daí esta substância ser extremamente tóxica para os gatos podendo mesmo causar a morte.
Nos cães e noutras espécies menos susceptíveis tais como alguns roedores (hamsters ou porquinhos-da-índia), os produtos contendo permetrina se forem usados segundo as instruções do fabricante não apresentam toxicidade. Contudo, os cães podem apresentar sintomas relativamente preocupantes após uma exposição excessiva à substância ou hipersensibilidade à mesma.
A adição de outros produtos insecticidas também pode aumentar o risco de intoxicação, uma vez que as substâncias vão interagir umas com as outras, o que levará a uma metabolização mais dificultada e que a acção da permetrina seja mais prolongada.

Há algumas situações em que os cães estão em risco de intoxicação:

- O seu cão pode ingerir acidentalmente as embalagens do produto que esteja ao seu alcance em casa. O comportamento exploratório dos cães aliado ao armazenamento indevido destes químicos representa um risco importante para a ocorrência de intoxicação por ingestão. Neste caso a preocupação deve ser maior porque a absorção oral de permetrina é maior que a absorção cutânea.
- Colocar no animal os produtos de forma errada/indevida. O líquido das preparações spot on pode entrar em contacto com os olhos, escorrer para zonas ao alcance da boca, ou então o animal pode lamber o produto ao tentar limpar-se.
- Outro erro de colocação é friccionar o local de aplicação – isto não se deve fazer porque o produto está formulado para se difundir naturalmente e em segurança pela pele do animal e a fricção estimula a circulação local e facilita a absorção, aumentando a toxicidade.
- Muitos produtos são apresentados em posologias diferentes, que devem ser cumpridas em todos os casos pois estão formuladas para intervalos de peso específicos para cães. Portanto, o conteúdo de uma pipeta para um cão de 25Kg não deve ser dividido por vários cães pequenos, pois há o risco de sobredosagem da substância.

No caso dos gatos, a intoxicação ocorre com mais frequência por exposição cutânea mas também por ingestão após limpeza do produto colocado cutaneamente, ou ainda por exposições secundárias, por via oral ou cutânea, após o contacto com cães aos quais o produto foi aplicado.

As causas da intoxicação nem sempre se devem á aplicação directa no animal. Os gatos que coabitam com cães e dormem com eles, ou simplesmente tem comportamentos afectivos, como a lambedura, podem ficar intoxicados por ingestão do produto recentemente colocado no pêlo do cão.

Um erro muito comum de acontecer por parte dos donos é a aplicação em gatos de produtos insecticidas para controlo de pulgas/carraças destinados para cães.  A maior parte das vezes ocorre por descuido do proprietário, quer seja por desconhecimento, negligência ou então porque o produto é vendido de forma incorrecta. Os produtos para cães têm concentrações mais altas (45% a 65%) de permetrina pelo que a exposição, mesmo  a quantidades pequeninas, pode ser letal para um gato.
Por este motivo, antes da aplicação de qualquer produto no seu animal deve ler as instruções na embalagem, independentemente de no acto da compre já lhe terem explicado a forma de aplicação.

  •       Manifestações clínicas da intoxicação por permetrina:
Os primeiros sintomas surgem normalmente 1 a 3 horas após o contacto do animal com a substância tóxica.

No gato os sintomas são maioritariamente neurológicos e musculares:
·         Convulsões,
·         Tremores musculares,
·         Salivação excessiva (babar-se),
·         Depressão ou hiperexcitabilidade,
·         Ataxia (falta de coordenação motora e desequilíbrio),
·         Midríase (Pupilas dilatadas),
·          Hipertermia (temperatura alta),
·          Taquicardia (aumento da frequência cardíaca),
·          Vómitos e diarreia
·         Inflamação e descamação cutânea quando o contacto é através da pele
·         Dificuldade respiratória
·         Morte


No cão é frequente observar letargia, ataxia, tremores musculares e ao contrário dos gatos, os distúrbios digestivos: vómitos, diarreia, salivação excessiva são mais frequentes.
O diagnóstico da intoxicação fundamenta-se nos sinais clínicos e no histórico de exposição a produtos contendo piretrinas (aplicação de pipetas/coleiras ou ingestão/contacto com pesticidas).

*        O que fazer em caso de intoxicação do seu animal?

No caso de a contaminação ser por contacto com a pele deve-se imediatamente dar um banho ao animal e contactar o Médico Veterinário.
 O banho deve ser feito com um produto desengordurante, por exemplo com líquido da loiça ou sabão, com água morna a fria, nunca quente e sem fazer fricção. A água quente e a fricção excessiva da pele causam vasodilatação periférica o que faz aumentar a absorção cutânea do produto, pelo que estão contra-indicadas.
Se tiver havido ingestão do produto nunca deve dar leite ou alimentos gordurosos como o azeite, porque aumentam a sua absorção pelo organismo. Em vez disso, deve ser levado urgentemente ao Médico Veterinário para ser tratado. Estes casos precisam de monitorização cuidada, fluidoterapia e internamento.
O prognóstico varia consoante a sensibilidade do animal ao produto. Os animais jovens são os mais susceptíveis. Na maioria das vezes o prognóstico é reservado.
Este tipo de intoxicações é muito frequente na clinica de animais de companhia, sendo nunca demais alertar para a sua gravidade.

*        Como evitar?

- Leia sempre cuidadosamente as embalagens dos produtos que aplica ao seu animal: champôs, coleiras, pipetas, sprays, pós, para verificar que é seguro aplicar e quais os cuidados a ter na utilização.
- Respeite as condições de utilização dos produtos.
- Tenha em atenção que existem no mercado disponíveis para gato coleiras e pós insecticidas contendo piretrinas que, apesar de serem mais económicos, podem apresentar risco de intoxicação para o gato quer por contacto com a pele, quer se o gato os lamber.
- Nunca use no seu gato coleiras, pipetas ou outros produtos desparasitantes externos destinados a cães, pois geralmente contêm permetrina e em doses fatais para os gatos.
- Quando colocar pipetas no seu cão, não permita que ele e outros animais que com ele contactem lambam o local de aplicação.
-De modo a prevenir a exposição acidental do produto mantenha o cão afastado de gatos após o tratamento até que o local de aplicação esteja seco. É importante assegurar que os gatos não lambam o local de aplicação de um cão tratado.

Outros cuidados a ter:

- Lave bem as mãos após a aplicação.
- Não coma, beba ou fume durante a aplicação.
- Evite o contacto do produto com a pele, olhos ou boca.
- Animais tratados não devem ser autorizados a brincar ou a dormir com as pessoas, especialmente com crianças, pelo menos até que o local de aplicação esteja seco. Isto pode ser assegurado se aplicar o produto no animal á noite.
- Cães tratados não devem ser autorizados a nadar pelo menos nas 2 horas após o tratamento. Os produtos contendo piretrinas são perigosos para os organismos aquáticos.
- O medicamento não deve ser eliminado em cursos de água.

Se o seu animal apresentar sintomas suspeitos de ter sofrido uma intoxicação por piretrinas deve levá-lo imediatamente ao Médico Veterinário.

Artigo escrito por Sandra Oliveira – médica veterinária (CP 4910)

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