Clínica Veterinária de Mangualde
Dr.
Benigno Rodrigues
Dra. Sandra
Oliveira
INTOXICAÇÃO POR
PERMETRINA NO CÃO E NO GATO
Os parasitas
externos como as pulgas e as carraças podem causar um grande incómodo para os
animais de estimação e tornarem-se numa verdadeira dor de cabeça para os seus
donos. Além de infestarem o animal, causarem-lhe mal-estar e transmitirem-lhe
doenças, também depositam milhares de ovos no ambiente. Fica não só o animal
infestado como também tudo á sua volta.
O recurso a
produtos insecticidas para o controlo de parasitas externos nos cães e gatos é
frequente, considerando que actualmente estão disponíveis diversos
medicamentos/ produtos de uso veterinário, de venda não sujeita a receita
médica, nos Centros de atendimento médico-veterinário (CAMVs), além das
farmácias e lojas de animais.
Assim de modo
acessível e pouco dispendioso, os donos podem comprar produtos de aplicação
simples e rápida que assegura eficácia no controlo de pulgas, piolhos,
carraças, moscas e mosquitos. Estes produtos estão disponíveis sob diversas formas:
spot-on (pipetas), coleiras, sprays, pós e champôs.
Muitas destas formulações veterinárias indicadas
como insecticidas para o controlo de pulgas, carraças e piolhos nos animais
domésticos, contêm na sua constituição piretrinas ou piretróides (compostos
sintéticos derivados das piretrinas). Os piretróides mais usados são a
permetrina, a cipermetina e a deltametrina.
A permetrina está presente em vários produtos comerciais,
sendo os mais conhecidos o Pulvex® e o Advantix® em forma de unção punctiforme
(pipeta), e a deltametrina na coleira Scalibor®. Estes três produtos em
particular destinam-se apenas a cães, estando contra-indicado o seu uso em
gatos.
- Toxicidade da permetrina nos cães e gatos
Os casos de intoxicação por permetrina são mais frequentes
na espécie felina que na canina.
Nos cães estes produtos têm uma grande margem de
segurança, com um risco relativamente baixo de ocorrência de efeitos adversos, já
nos gatos os produtos/medicamentos formulados exclusivamente para cães, podem
ser fatais.
Os gatos e em especial os mais jovens têm uma
grande sensibilidade à permetrina, porque, devido á sua fisiologia particular,
são incapazes de a metabolizar no organismo. Daí esta substância ser
extremamente tóxica para os gatos podendo mesmo causar a morte.
Nos cães e noutras espécies menos susceptíveis tais
como alguns roedores (hamsters ou porquinhos-da-índia), os produtos contendo
permetrina se forem usados segundo as instruções do fabricante não apresentam
toxicidade. Contudo, os cães podem apresentar sintomas relativamente
preocupantes após uma exposição excessiva à substância ou hipersensibilidade à
mesma.
A adição de outros produtos insecticidas também
pode aumentar o risco de intoxicação, uma vez que as substâncias vão interagir
umas com as outras, o que levará a uma metabolização mais dificultada e que a
acção da permetrina seja mais prolongada.
Há algumas situações em que os cães estão em
risco de intoxicação:
- O seu cão pode ingerir acidentalmente as
embalagens do produto que esteja ao seu alcance em casa. O comportamento
exploratório dos cães aliado ao armazenamento indevido destes químicos
representa um risco importante para a ocorrência de intoxicação por ingestão.
Neste caso a preocupação deve ser maior porque a absorção oral de permetrina é
maior que a absorção cutânea.
- Colocar no animal os produtos de forma errada/indevida.
O líquido das preparações spot on
pode entrar em contacto com os olhos, escorrer para zonas ao alcance da boca,
ou então o animal pode lamber o produto ao tentar limpar-se.
- Outro erro de colocação é friccionar o local de
aplicação – isto não se deve fazer porque o produto está formulado para se
difundir naturalmente e em segurança pela pele do animal e a fricção estimula a
circulação local e facilita a absorção, aumentando a toxicidade.
- Muitos produtos são apresentados em posologias
diferentes, que devem ser cumpridas em todos os casos pois estão formuladas
para intervalos de peso específicos para cães. Portanto, o conteúdo de uma
pipeta para um cão de 25Kg não deve ser dividido por vários cães pequenos, pois
há o risco de sobredosagem da substância.
No caso dos
gatos, a intoxicação ocorre com mais frequência por exposição cutânea mas
também por ingestão após limpeza do produto colocado cutaneamente, ou ainda por
exposições secundárias, por via oral ou cutânea, após o contacto com cães aos
quais o produto foi aplicado.
As causas da
intoxicação nem sempre se devem á aplicação directa no animal. Os gatos que
coabitam com cães e dormem com eles, ou simplesmente tem comportamentos
afectivos, como a lambedura, podem ficar intoxicados por ingestão do produto
recentemente colocado no pêlo do cão.
Um erro muito
comum de acontecer por parte dos donos é a aplicação em gatos de produtos insecticidas
para controlo de pulgas/carraças destinados para cães. A maior parte das vezes ocorre por descuido do
proprietário, quer seja por desconhecimento, negligência ou então porque o
produto é vendido de forma incorrecta. Os produtos para cães têm concentrações
mais altas (45% a 65%) de permetrina pelo que a exposição, mesmo a quantidades pequeninas, pode ser letal para
um gato.
Por este
motivo, antes da aplicação de qualquer produto no seu animal deve ler as
instruções na embalagem, independentemente de no acto da compre já lhe terem
explicado a forma de aplicação.
- Manifestações clínicas da intoxicação por permetrina:
Os primeiros sintomas surgem normalmente 1 a 3
horas após o contacto do animal com a substância tóxica.
No gato os sintomas são maioritariamente neurológicos e musculares:
·
Convulsões,
·
Tremores musculares,
·
Salivação excessiva (babar-se),
·
Depressão ou hiperexcitabilidade,
·
Ataxia (falta de coordenação motora e desequilíbrio),
·
Midríase (Pupilas dilatadas),
·
Hipertermia
(temperatura alta),
·
Taquicardia
(aumento da frequência cardíaca),
·
Vómitos e
diarreia
·
Inflamação e descamação cutânea quando o
contacto é através da pele
·
Dificuldade respiratória
·
Morte
No cão é frequente observar letargia, ataxia,
tremores musculares e ao contrário dos gatos, os distúrbios digestivos:
vómitos, diarreia, salivação excessiva são mais frequentes.
O diagnóstico
da intoxicação fundamenta-se nos sinais clínicos e no histórico de exposição a
produtos contendo piretrinas (aplicação de pipetas/coleiras ou
ingestão/contacto com pesticidas).
*
O que
fazer em caso de intoxicação do seu animal?
No caso de a contaminação ser por contacto com a
pele deve-se imediatamente dar um banho ao animal e contactar o Médico
Veterinário.
O banho deve ser feito com um produto
desengordurante, por exemplo com líquido da loiça ou sabão, com água morna a
fria, nunca quente e sem fazer fricção. A água quente e a fricção excessiva da
pele causam vasodilatação periférica o que faz aumentar a absorção cutânea do
produto, pelo que estão contra-indicadas.
Se tiver
havido ingestão do produto nunca deve dar leite ou alimentos gordurosos como o
azeite, porque aumentam a sua absorção pelo organismo. Em vez disso, deve ser
levado urgentemente ao Médico Veterinário para ser tratado. Estes casos
precisam de monitorização cuidada, fluidoterapia e internamento.
O prognóstico
varia consoante a sensibilidade do animal ao produto. Os animais jovens são os
mais susceptíveis. Na maioria das vezes o prognóstico é reservado.
Este tipo de
intoxicações é muito frequente na clinica de animais de companhia, sendo nunca demais
alertar para a sua gravidade.
*
Como
evitar?
- Leia sempre cuidadosamente as
embalagens dos produtos que aplica ao seu animal: champôs, coleiras, pipetas,
sprays, pós, para verificar que é seguro aplicar e quais os cuidados a ter na
utilização.
- Respeite as
condições de utilização dos produtos.
- Tenha em
atenção que existem no mercado disponíveis para gato coleiras e pós
insecticidas contendo piretrinas que, apesar de serem mais económicos, podem
apresentar risco de intoxicação para o gato quer por contacto com a pele, quer
se o gato os lamber.
- Nunca use no
seu gato coleiras, pipetas ou outros produtos desparasitantes externos
destinados a cães, pois geralmente contêm permetrina e em doses fatais para os
gatos.
- Quando
colocar pipetas no seu cão, não permita que ele e outros animais que com ele
contactem lambam o local de aplicação.
-De modo a
prevenir a exposição acidental do produto mantenha o cão afastado de gatos após
o tratamento até que o local de aplicação esteja seco. É importante assegurar
que os gatos não lambam o local de aplicação de um cão tratado.
Outros cuidados a ter:
- Lave bem as
mãos após a aplicação.
- Não coma,
beba ou fume durante a aplicação.
- Evite o
contacto do produto com a pele, olhos ou boca.
- Animais
tratados não devem ser autorizados a brincar ou a dormir com as pessoas,
especialmente com crianças, pelo menos até que o local de aplicação esteja seco.
Isto pode ser assegurado se aplicar o produto no animal á noite.
- Cães
tratados não devem ser autorizados a nadar pelo menos nas 2 horas após o
tratamento. Os produtos contendo piretrinas são perigosos para os organismos
aquáticos.
- O
medicamento não deve ser eliminado em cursos de água.
Se o seu animal
apresentar sintomas suspeitos de ter sofrido uma intoxicação por piretrinas
deve levá-lo imediatamente ao Médico Veterinário.
Artigo escrito por Sandra Oliveira – médica veterinária (CP
4910)
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Mangualde
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