quinta-feira, 14 de novembro de 2013

LEPTOSPIROSE - O QUE SABER E O QUE FAZER?


Clínica Veterinária de Mangualde
     Dr. Benigno Rodrigues
     Dra. Sandra Oliveira






LEPTOSPIROSE  - O QUE SABER E O QUE FAZER?

A leptospirose é uma importante zoonose e um problema grave para a saúde publica, que está a voltar a surgir na população canina em todo o mundo. Embora há uns anos atrás a incidência desta doença nos cães não fosse muito elevada, actualmente tem-se registado um aumento significativo do número de animais infectados.


v  O que é?

- A leptospirose é uma doença grave causada por uma bactéria denominada Leptospira ssp, que afecta muitas espécies animais, domésticas e silvestres, inclusive o Homem. O cão e outros animais como os ratos, os bovinos e animais silvestres podem contrair a doença e transmiti-la. Os gatos podem infectar-se mas é muito raro.
- É considerada uma das doenças infecciosas mais importantes no cão, além de que trata-se de uma zoonose, ou seja, uma doença dos animais que afecta o Homem.
- Esta doença pode atingir toda a população de cães, apesar de os mais susceptíveis serem os cães mais jovens, não vacinados, e que vivem em zonas rurais.
- Ocorre em todo o mundo, sendo especialmente endémica nas regiões com clima quente e húmido. Em climas temperados, como é o caso de Portugal, é muito frequente nos meses mais chuvosos, em áreas alagadas e/ou deficientes em saneamento.
-A mais alta taxa de prevalência em pessoas ocorre nos países tropicais em desenvolvimento. No nosso país, uma das zonas mais afectadas é os Açores, com uma taxa de incidência média anual dez vezes superior ao Continente.

v  Como se transmite?

- A bactéria pode viver no ambiente ou em animais hospedeiros. Fora do hospedeiro, a bactéria não se multiplica, a sua sobrevivência depende muito das condições ambientais (temperatura, humidade).
- É altamente sensível a ambientes secos, a pH e a temperaturas extremas mas pode sobreviver durante vários meses a anos em solos húmidos e na água. Além disso, os animais infectados, mesmo os sujeitos a tratamento, podem continuar a libertar a bactéria no meio ambiente, através da urina, esporadicamente ou até continuamente, durante alguns meses a anos.
- Os ratos e outros roedores são os hospedeiros naturais, logo, os principais portadores da Leptospira spp.

Os animais e os seres humanos podem ficar infectados através de:
- Contacto directo ou ingestão de urina de animais infectados;
- Exposição indirecta por contacto/ingestão de água, alimentos ou solo contaminados pela urina de animais infectados;
- Ingestão de tecidos infectados (ex: ratos);
- Penetração da bactéria na pele lesionada através de feridas/cortes ou por mordeduras;
- Nos animais também pode ocorrer a transmissão por via sexual.



!AS PESSOAS TAMBÉM PODEM SER AFECTADAS!

-A infecção por Leptospira no ser humano geralmente ocorre por contacto da bactéria com as mucosas (oral, nasal e ocular) ou com feridas.
-Por exemplo, uma pessoa pode infectar-se ao ingerir uma salada feita de vegetais crus contaminados com urina de rato, beber água de inundações ou de locais onde não existe rede de esgotos nem drenagem de águas pluviais, ou ainda se estiver em contacto com água ou lamas de esgotos, especialmente, se tiver feridas na pele ou mucosas.


        -Os cães ao cheirarem o rasto de um rato, ou até mesmo, lamberem a urina deixada por ele, mesmo que seja ao de leve, podem ficar infectados, portadores da doença e eliminarem a bactéria na urina. Por isso, as pessoas devem evitar o contacto com a urina dos seus animais de estimação, mesmo quando estes estão vacinados. A vacina usada nos cães evita a doença mas não impede a transmissão da infecção aos seres humanos.












-O risco do seu animal de estimação (cão, gato, boi, cabra, ou cavalo) lhe transmitir leptospirose é geralmente baixo. Pensa-se que o principal modo de transmissão desta doença para os seres humanos seja através do contacto directo ou indirecto com tecidos, órgãos ou urina de animais contaminados.
-Os ratos e/ou outros roedores são basicamente os principais responsáveis pela transmissão da infecção às pessoas. Porque além de serem o principal portador da bactéria, existem em grande número, pelo campo, nas cidades, nos esgotos/lixeiras, e vivem em grande proximidade connosco. A Leptospira multiplica-se nos rins destes animais sem causar grandes danos sistémicos, sendo depois excretada na urina, o que poderá contaminar cursos de água, solos e produtos alimentares. O cão e o Homem tornam-se então hospedeiros acidentais.

-O Homem é infectado casualmente e é muito pouco provável que venha a ser transmissor da infecção especialmente, para outra pessoa. Portanto, não se preocupe, geralmente não há transmissão de uma pessoa para outra, a leptospirose é transmitida entre animais e dos animais para o Homem.

v  Quais são os sintomas nos cães?

-O tempo entre o contacto com a bactéria e o desenvolvimento da doença ronda aproximadamente 1 a 2 semanas.
- Existem diversas serovariedades desta bactéria. Nos cães as formas mais importantes são a canicola e a icterohaemorrhagiae. Estas estirpes de leptospira causam distúrbios renais e hepáticos nos cães.
- Os sinais clínicos variam e são pouco específicos.
- Alguns animais podem ser assintomáticos, ou seja, infectarem-se e eliminar a bactéria na urina, sem manifestarem sinais de doença.
-Os sintomas mais comuns são: febre, depressão, fraqueza, dor muscular, desidratação, apatia, anorexia, dor abdominal, evoluindo depois para anemia, coloração amarela das mucosas (icterícia), aumento do consumo de água (polidipsia), aumento da produção de urina (poliúria), diarreia sanguinolenta, vómito, urina com cor vermelha, conjuntivite e hemorragias. Nos casos mais graves pode haver falência orgânica e morte.
- Os animais jovens que não foram vacinados ou cujas mães não foram vacinadas têm um maior risco de desenvolver a forma mais grave da doença, que pode levar o animal á morte devido a septicemia ou a uma intensa hemólise.
            Caso suspeite que o seu animal esteja doente, leve-o imediatamente ao Médico Veterinário.
Esta doença requer hospitalização e tratamento á base de antibióticos, o mais cedo possível. Quanto mais cedo for iniciada a terapia, menor será o dano nos órgãos internos e mais rápido será o recobro. E uma vez que se trata de uma zoonose é extremamente importante estabelecer um diagnóstico e instituir um tratamento o mais precocemente possível.

v  O que acontece nas pessoas?

- De forma geral, a bactéria penetra no corpo humano através das mucosas (boca, nariz ou conjuntiva ocular) ou de feridas na pele. Desde a exposição ao desenvolvimento de sinais clínicos podem passar entre 5 a 14 dias.
                - Dentro do nosso organismo, a bactéria vai invadir o sangue e se replicar em numerosos tecidos: pulmões, fígado, rins, olhos e o sistema nervoso central. Dá origem a uma vasculite que é responsável pela maioria das manifestações clínicas entre as quais destaca-se: febre, dores musculares e articulares, conjuntivite, dor de cabeça, náuseas e vómitos, hepatomegalia, esplenomegalia, insuficiência renal e hemorragias.
- Pode aparecer em pessoas de qualquer idade, mas normalmente é uma doença profissional, mais comum entre os agricultores e nas pessoas que trabalham nos esgotos e matadouros. A maioria dos casos infecta-se por nadar em águas contaminadas, o que ocorre principalmente no final do Verão a inícios do Outono.

- Em mais de 90% dos casos o desenvolvimento da leptospirose é ligeiro, causando geralmente sintomas semelhantes aos da gripe, o que faz com que a maioria passe despercebida. Os casos mais graves, conhecidos como “síndrome de Weil”, requerem internamento hospitalar e caracterizam-se por uma insuficiência multi-orgânica fulminante, colapso vascular e morte.
-Caso suspeite desta doença, contacte o seu médico. A leptospirose é uma doença curável, no entanto, requer um diagnóstico e tratamento o mais cedo possível.

v  Quais os cuidados que as pessoas devem ter para evitar o contágio?

Alguns cuidados a ter estão directamente relacionados com o meio ambiente em que se vive. Outros têm a ver com a higiene da habitação e com a própria higiene pessoal. O essencial é acautelar situações de contacto ou ingestão directa/indirecta da urina dos roedores e dos nossos animais domésticos. Assim, convém ter os seguintes procedimentos:

- Drenagem de águas paradas;
- Limpeza de matas e terrenos baldios;
- Evitar contacto com água e lama de inundações/cheias ou de áreas alagadas;
-Se a cheia inundar as nossas casas e for inevitável o contacto, esperar que as águas baixem e depois lavar e desinfectar todas as superfícies (chão, paredes, objectos, roupas) com lixivia diluída. Depois enxaguar com água limpa. Os alimentos que estiveram em contacto com a água das inundações devem ser eliminados, nunca reutilizados pois podem transmitir a doença.
-Evitar beber água proveniente de zonas estagnadas/alagadas ou de fonte desconhecida, como rios, riachos, nascentes ou pântanos.
- Desinfecção da água;
- Lavagem dos alimentos e em especial os que são consumidos crus, como frutas e saladas;
- Obras de saneamento básico; abastecimento de água, esgotos e lixo mas habitações e na via pública;
- Desinfecção e limpeza dos locais susceptíveis de atrair ratos e outros roedores;
- Evitar que as crianças e jovens nadem ou brinquem em zonas que possam estar contaminadas com urina dos ratos.
- Manter os alimentos armazenados e hermeticamente fechados e ainda eliminar os restos de comida/lixos que possam atrair ratos e outros animais; 
- Não colocar lixo sobre os ralos de escoamento das águas pluviais pois podem atrair ratos, além de que o lixo dificulta o escoamento das águas, agravando o problema das inundações;
- Controlo de roedores e animais silvestres;
- As pessoas que trabalham na limpeza das águas, lamas, entulhos e desentupimento de esgotos devem usar botas resistentes e luvas de borracha. Se possível usar sacos plásticos duplos a envolver as mãos e os pés;
          - Tal como aconteçe nos ratos, os animais domésticos quando são infectados, eliminam a bactéria na urina, portanto deve-se tomar cuidados especiais na manipulação de tecidos, órgãos ou urina, utilizando equipamento protector, essencialmente luvas e botas para protecção das mãos e pés;
        - Todo o material que teve em contacto com um animal infectado/doente deve ser desinfectado ou incinerado;
- Lavar sempre as mãos após manipular o seu animal de estimação ou quando tenha estado em contacto com as suas excreções;
- Isolar o animal infectado/doente durante o seu tratamento;
           -Garantir que o seu animal de estimação que esteja doente com leptospirose cumpre com o esquema terapêutico e preventivo elaborado pelo seu médico veterinário;
            - Desinfectar todas as superfícies (canil, casota) com uma solução contendo lixívia diluída;
- Caso o canil esteja no exterior, e particularmente nos cães de quinta e/ou nos que vivem no campo, retirar e lavar os recipientes da comida (comedouro) e água (bebedouro) todos os dias, antes do anoitecer, para evitar ser contaminado com ratos e seus dejectos.

               Não hesite em contactar o seu Médico Veterinário caso suspeite que o seu animal de estimação esteja doente. Contacte o seu Médico de Família caso tenha alguma dúvida sobre uma possível exposição a um animal infectado e/ou sobre o aparecimento de sintomas como febre, dor muscular e/ou dores de cabeça.

v  Como posso prevenir que o meu animal de estimação contraia leptospirose?

- Limitar o acesso por parte do animal a áreas ambientais de risco (poças de água, águas estagnadas, pântanos, lagoas, pastos inundados) e a zonas onde existem ratos e animais selvagens;
- Controlo de roedores;

- Vacine o seu cão contra a leptospirose.
Os cachorros devem ser vacinados a partir das 8-9 semanas de vida, seguido de reforços 3-4semanas depois e novamente anualmente ou semestralmente.
 Nos casos de risco: canis e zonas rurais recomenda-se a revacinação semestralmente.
 A vacinação pode não conferir uma protecção a 100%, pois existem várias estirpes de leptospirose que causam doença, mas, as estirpes contempladas na vacina geralmente, são as mais frequentes, logo é eficaz.

  Artigo escrito por Sandra Oliveira – médica veterinária (CP 4910)

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