Ter um animal na nossa vida é
muito gratificante, é um amigo que vai estar sempre ao nosso lado, que sem
interesse nos espera, reconforta e acarinha, faz-nos companhia e deixa-nos
muito felizes.
Um animal é um elo de ligação à
natureza, e ajuda-nos a valorizar sentimentos muito importantes na vida como a amizade,
a bondade, a disponibilidade, a dedicação e a reforçar o sentido de
responsabilidade. É ainda capaz de se moldar ao nosso estado de espirito,
podendo sempre contar com ele.
Desde o início da história da
humanidade que o cão simboliza o conceito de fidelidade em relação ao Homem. Os
cães são animais extremamente sociáveis e isto torna-os nos animais de
companhia ideais.
Ter ou não ter?
A decisão de ter um animal deve
ser um acto bem ponderado, pelo que o deve distinguir bem de um acto de
consumo. Trata-se de um ser vivo com o qual se vão criar fortes ligações
sentimentais e dependências.
Uma boa convivência com o seu
cão implica conhecê-lo, educá-lo, amá-lo e respeitá-lo.
Conhecê-lo implica compreender o
seu carácter como cão e saber prever as suas reacções.
Educá-lo significa mostrar-lhe
qual o seu território, o que pode e não pode fazer. O cachorro deve reconhecer
e respeitar o proprietário como seu dono, enquanto este deve reconhecer e
respeitar a natureza do cão. O objectivo da educação do cão é desenvolver um
animal calmo, sociável e que respeita as regras da casa. Para que tal aconteça,
a frase chave é “pensar à cão” e não cair na tentação de achar que o cachorro é
um bebé ou que o cão tem a mesma percepção do mundo que o ser humano.
Amá-lo significa dar-lhe afecto
durante toda a sua vida além de comprometer-se a prestar-lhe os cuidados
indispensáveis, como os cuidados de saúde, uma alimentação equilibrada e um
espaço próprio para fazer as suas necessidades fisiológicas.
Respeitá-lo significa ter em conta a sua
condição animal. Actualmente tende-se a humanizar excessivamente os nossos
animais, descaracterizando-os e tornando-os por vezes, inadaptáveis. Um cão não
é um homem, não vive como nós e não come como nós. Não o devemos humanizar, mas
sim respeitar o seu instinto e compreender as suas necessidades específicas.
Antes de ter uma animal de
estimação, deve pensar se realmente tem condições para tal, pois só dessa forma
se beneficia da sua companhia e se garante o seu bem-estar.
É importante ter em conta que a
esperança média de vida do cão é aproximadamente 13 anos (dependendo da
raça/tamanho) e que durante esse período, ele será completamente dependente de
nós. Devemos por isso proporcionar-lhe um espaço adequado, tempo e
disponibilidade, e ainda ter alguma capacidade financeira para garantir-lhe
alimentação e cuidados médicos adequados.
O cão vai precisar que o leve a
passear, independentemente se faça chuva ou sol. Convém levá-lo sempre de coleira
e trela, eventualmente açaime, e se for para um local público leve sempre consigo
um saco plástico para apanhar os dejectos. Assim, estamos a respeitar os outros
e a contribuir para manter os nossos espaços públicos limpos e asseados.
Devemos ponderar também porquê
preferir um cão invés de um gato, já que poderá não ser uma escolha acertada se
por exemplo vive num espaço pequeno e saí às 7 horas da manha e chega a casa às
altas horas da noite. Um cão necessite que o dono lhe dedique tempo de
qualidade, de atenção e de brincadeira, tarefa que terá de fazer todos os dias,
365 dias por ano.
Logo, tenha em conta a sua
personalidade, o espaço (ex: quintal), o tempo disponível, o plano para os
períodos de ausência (férias), a disponibilidade financeira, a esperança média de
vida do animal, e até experiências anteriores que tenha, na altura de decidir se
quer ou não ter um animal de estimação. Perante isso, a escolha pode recair
desde a um Yorkshire Terrier até a um São Bernardo, entre outras raças
fantásticas, ou então porque não num “rafeiro” de porte médio, simpático e
versátil?
Ter um animal em casa é bom.
Quem resolve “viver” com uma animal tem de pensar bem nisto antes de o trazer
para casa. Muitas pessoas não o fazem e por isso os abandonam. A prática de
abandono representa uma falta de ética e moral e não deixa de ser uma forma
grave de crueldade. Portanto, se ainda restar alguma dúvida depois de pensar
bem nos concelhos aqui descritos, peço, por favor que não o tenham.
Que raça escolher?
Hoje em dia há algumas raças que
são rotuladas conforme o seu carácter ou característica dominante. O Pastor
Alemão é conhecido como obediente e bom cão de guarda, o Retriever do Labrador
como afectuoso com as crianças, o Galgo como independente, e o Chihuahua é visto
como um cão frágil. Apesar do seu carácter inato é impossível classificar um
cão de forma categórica, por isso deve encarar estas ideias com algum
cepticismo, não esquecendo que existem sempre excepções.
Há algumas raças, definidas por lei, que são consideradas potencialmente perigosas (veja no blog o artigo referente a este assunto).
A legislação que regulamenta as
condições necessárias para a posse de cães de raças potencialmente perigosas é
específica e deve ter conhecimento dela antes de pensar em adquirir um exemplar
destas raças. Esta lei foi criada com o objectivo de tentar resolver os casos
de agressividade associados a estas raças, e o perigo/ameaça que potencialmente
representam para a população.
Até é compreensível o sentido
objectivo da lei criada, mas, na minha opinião, essa simples designação de
raças potencialmente perigosas, que inclui algumas raças de cães, não irá
resolver o problema, pois mais cedo ou mais tarde outras raças estarão
incluídas nessa designação. Pois todos os cães mordem e atacam, tendo em conta
as circunstâncias e quanto maior é o tamanho do cão, mais grave e mais
consequências sérias terá o efeito da sua mordedura. Portanto, deve pensar que
todos os cães com mais de 15Kg são potencialmente perigosos.
O principal problema da agressividade não está nos cães ou na sua raça específica mas na educação que lhes é dada pelos proprietários. O importante é a população estar informada acerca de como adestrar o seu animal e reconhecer as suas limitações. Igualmente deve educar as crianças a lidar com os animais, e por vezes, se necessário recorrer a ajuda profissional (treinador canino), para evitar determinadas condutas anti-sociais e acidentes escusados.
Na realidade, a raça deve ser
escolhida em função do papel que se pretende atribuir ao animal, tendo em conta
o seu tamanho e peso. Por exemplo, é desajustado manter um Dogue Alemão fechado
todo o dia num apartamento ou ter um Yorkshire Terrier a guardar uma quinta.
Qualquer que seja a raça
escolhida dever-se-á ter sempre presente que um cão requer espaço, gosta de
fazer exercício físico e que quer a atenção do dono em todos os momentos do
dia.
Cão ou cadela?
De
forma geral, as cadelas são mais calmas, meigas, e de tamanho mais pequeno que
os machos.
As cadelas têm os cios mas se esta situação for um
inconveniente para si, pode facilmente ser ultrapassada se for castrada.
Se pretender adquirir um segundo
animal para fazer companhia a um que já tenha em casa, convém ter atenção
alguns aspectos. Ter dois cachorros machos juntos pode fazer que quando
atingirem a maturidade sexual, haja maior probabilidade de entrarem em
rivalidade e lutarem-se entre si, em contrapartida, as cadelas costumam dar-se
bem.
Onde adquirir?
Existem vários locais onde pode adquirir um
cachorro, desde a uma feira, a um vendedor particular, passando pelas lojas de
animais e pelos criadores. Convém ter atenção que nas feiras não existe nenhuma
garantia em termos de antecedentes do cachorro e será muito difícil voltar a
encontrar o vendedor, caso o animal tenha algum problema.
Se pretende adquirir um animal
de uma raça particular o mais indicado é dirigir-se a um criador a fim de obter
mais informações sobre a raça e disponibilidade de ninhadas. Poderá obter as
listas de criadores junto de associações de canicultura, em clínicas
veterinárias e nos clubes de raças, facilmente disponíveis via internet.
A que idade escolher?
O mais comum é escolher um cachorro
que tenha entre 9 a 15 semanas de idade, que corresponde ao período de máxima
receptividade ao estabelecimento de uma relação com o ser humano.
Mas é igualmente bom e
considerado socialmente mais dignificante escolher um cão que tenha mais idade.
Com cães mais velhos, terá de ter-se mais cuidado e paciência, pois estes já
podem ter determinados traumas e comportamentos desadequados que pode fazer com
que demorem mais tempo a adaptarem-se. Tal como nos seres humanos, com a idade
o animal vai precisar de mais carinho, atenção, paciência e cuidados médicos.
Portanto, é importante escolher o cão adequado em função das nossas condições.
Se pretende um cachorro, e tirando
situações excepcionais, como o caso de animais abandonados ou de recém-nascidos
órfãos, ele deve sair de junto da mãe e da ninhada por volta dos 3 meses de idade.
É importante aguardar até essa altura para que o cachorro possa passar o
período de sociabilização com a mãe e irmãos - período essencial para a
modelação de todo o comportamento futuro do cão (aprendizagem da chamada
“etiqueta canina”). Este período é bastante enriquecedor para o cachorro,
porque irá aprender toda a comunicação intra-espécie (sobre alimentação,
território, sexualidade), a organização hierárquica (com posturas de dominância
e submissão) e o controlo da mordedura (com mãe e irmãos).
Os 3 meses de idade coincidem
também com a altura do chamado “período de distanciamento” – período natural no
qual há um afastamento progressivo entre cachorros e progenitora. A cadela
começa a exibir uma diminuição da tolerância e das manifestações de afecto para
com as crias e aumenta o comportamento exploratório das crias com o meio
ambiente que as rodeia.
Qual o cachorro a escolher dentro de uma ninhada?
Sempre que o cachorro não for
recolhido da rua ou o último do grupo, a escolha deve ser realizada com base na
avaliação do seu carácter.
A avaliação do carácter do
cachorro deve ser feita num ambiente calmo e com poucos estímulos e os
potenciais candidatos avaliados individualmente. O futuro dono deverá deixar
que seja o cachorro a iniciar a primeira forma de contacto e, se tal não
acontecer, deverá agachar-se no chão, chamar o animal e ver se este se
aproxima. Depois de iniciada a interacção, deverá brincar com ele com objectos
a que ele esteja habituado e, sentido o animal mais á vontade, poderá então
acarinha-lo. Finalmente deve manipulá-lo com movimentos como levantá-lo do chão
ou colocar a barriga dele virada para cima. Animais com temperamentos extremos,
como sejam a timidez e/ou medo ou de desafio e/ou agressividade não deverão ser
a primeira escolha para um animal de companhia.
Sempre que possível deve também
observar o comportamento dos progenitores, dado que o comportamento apresenta
uma grande base genética. O temperamento dos progenitores vai condicionar o dos
seus descendentes.
Poderá ver a mãe ligeiramente
magra mas esta deverá estar feliz e com aspecto saudável. O cachorro também
deverá ter um aspecto saudável, não apresentar cheiro desagradável, ter os
olhos e as orelhas limpas e deve estar alerta, ser brincalhão com os irmãos e
com os seres humanos.
Além disso, também é importante
verificar se o cachorro tem a respectiva documentação: boletim de vacinas e
certidão de nascimento. Estes documentos servem de garantia respectivamente quanto
ao estado de saúde e antecedentes do cão.
Depois de adquirir o cachorro
deve consultar o médico veterinário a fim de confirmar o estado de saúde do
mais recente membro da sua família.
Artigo realizado por Sandra Oliveira – médica veterinária (CP
4910)
Clínica Veterinária de
Mangualde
Av. General Humberto Delgado Nº 12 R/C Esq.
3530-115 Mangualde Tlf: 232.623.689