Dr.
Benigno Rodrigues
Dra. Sandra
Oliveira
A EDUCAÇÃO DO CACHORRO
- A educação e a obediência do cachorro são
importantes para o estabelecimento de uma relação saudável entre animal e
proprietário. Constitui não só a garantia duma coabitação harmoniosa entre o
cão, o dono e o meio ambiente envolvente como também, da sua integração na
sociedade.
- A educação e a
aprendizagem da chamada “etiqueta canina” deve começar logo a partir do momento
em que o animal entra na nova casa. Tudo é novo e estimula a sua
curiosidade. O cachorro cheira tudo e inspecciona cada divisão da sua nova
casa, corre, brinca e ladra. Já está a aprender. Por isso é indispensável
começar já a dar-lhe a conhecer as regras da casa e o seu lugar nela e não
tolerar comportamentos indesejáveis que poderão ser mais tarde mais difíceis de
corrigir.
- São muitas as coisas que o cachorro deve aprender
para conviver na nossa sociedade, para o qual não está preparado. Ele não sabe
que não deve morder, ladrar continuamente e comer tudo o que apanha.
- Tem de ter paciência para
lhe repetir as mesmas regras o número de vezes que seja necessário, e ir com calma e moderação, sem o assustar com gritos,
nervosismo e medo, premiando os comportamentos desejados e ignorando os
indesejados. O cachorro não deve aprender e agir por medo ou por coacção.
O cachorro aprenderá que se portar bem tem prémio e
com o tempo acabará por deixar os maus costumes.
- O cachorro não conhece o nosso vocabulário, assim
quando queremos dizer-lhe algo, as palavras que
utilizamos devem ser acompanhadas de uma linguagem corporal que indique ao cão
o que significam. Juntamente com as palavras associe expressões faciais
e/ou gestos que reforçam a compreensão do comando no cão, como por exemplo,
dizer “senta” ao mesmo tempo que levanta a mão direita no ar (estimulo sonoro
associado a estímulo visual).
- Utilize palavras curtas
com sons únicos e num tom de voz apropriado, com firmeza, e sempre a mesma palavra para o mesmo comando, como por
exemplo dizer “não” para corrigir ou “senta” para a obediência, com um tom de
voz firme. As frases longas não têm sentido para ele.
- A educação deve ser um momento de lazer e diversão para si e
para o cachorro e realizada por todos os membros da família.
- Como ensiná-lo a reconhecer o seu nome?
Desde o primeiro dia da chegada á nova casa chame-o
sempre pelo nome e se vier junto de si, felicite-o e recompense-o com uma
carícia. Se demorar um pouco mais de tempo não o repreenda, senão da próxima
vez que o chamar ele irá demorar mais tempo a reagir.
- A higiene:
Nos primeiros 4 meses de idade, os cães não tem controlo total dos esfíncteres, por isso, não se assuste se o seu cachorro fizer as necessidades (urina e/ou fezes) em locais inapropriados. Ele precisa que o eduque a fazer nos locais desejados para o efeito e poderá fazê-lo logo desde o início da sua chegada a casa.
O que fazer para que faça as necessidades fora
de casa?
- Leve o cachorro com frequência, se possível com intervalos de aproximadamente 2 horas, e regulares ao local onde quer que ele aprenda a fazer.
- Faça-o sempre a seguir às refeições, ao despertar e na sequência de momentos de brincadeira.
-Sempre que ele fizer as suas necessidades, felicite-o através do tom de voz ou de carícias.
-Se o cachorro começar a andar às voltas pela casa, como se estivesse a preparar-se para fazer as necessidades, espere que ele comece e de seguida, impeça-o erguendo-o no ar enquanto exclama a palavra “Não” com firmeza, e de imediato leve-o ao local desejado. Assim que ele tiver terminado as suas necessidades lá, acaricie-o e felicite-o.
- Ensinar a andar à trela:
- O ensino do andar à trela, á semelhança do treino de obediência, deve ser iniciado a partir dos 3 meses de idade. Quanto mais cedo o cachorro se habituar ao uso da trela, mais fácil será a aprendizagem.
- Deve começar com pequenas sessões em casa, mesmo
antes de levar o cão à rua. Nestas sessões o cão será habituado à colocação e
ao puxar da trela, com a utilização de reforços positivos (ex: carícias) para o
encorajar.
O que fazer?
- Habitue o cachorro á coleira e, posteriormente
inicie pequenos percursos dentro de casa com ele pela trela, diversas vezes ao
dia e por períodos curtos de tempo;
- De seguida, deve aprender a caminhar com trela.
Primeiro sente-o à sua esquerda (por uma questão pessoal poderá optar pela
direita, desde que seja sempre o mesmo lado), depois dê a ordem para avançar e
comece a caminhar;
- Segure a trela com folga e caminhe de forma
normal, o cachorro deve caminhar junto a si, mantendo a trela com folga;
- Sempre que parar, mande-o sentar-se,
recompensando-o com uma carícia;
- Se o animal puxar a trela diga “Não”, enquanto dá
um puxão seco na mesma.
Nunca castigue o animal (por qualquer razão que seja) batendo com ele com a trela ou pouxando a trela, pois esta deve ser associada a um momento de brincadeira/prazer e não de punição/castigo.
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- Todos os cães, pequenos ou grandes, devem aprender uma educação básica, pelo menos, os comandos básicos da sequência: “Senta”, “Deita” e “Fica”. Esta ordem cronológica deve ser respeitada para que haja uma correcta aprendizagem pelo cachorro, ou seja, o dono deve certificar-se que a ordem anterior está perfeitamente adquirida antes de passar a ensinar a ordem seguinte.
Se o cão aprender estas ordens será muito mais
fácil de o controlar, estabelecer uma relação e sobretudo que saiba
comportar-se em cada situação, inclusive em caso de perigo.
“Senta”: Enquanto exclama a ordem
“Senta”, com uma mão exerça uma ligeira pressão sobre o dorso do cachorro,
enquanto com a outra lhe mantém a cabeça erguida. Logo que o animal se sentar,
felicite-o, acariciando-o enquanto menciona o seu nome.
“Deita”: Comece por fazer com que o
cachorro se sente e coloque-se de cócoras junto dele. De seguida, puxe
suavemente as patas dianteiras para a frente enquanto dá a ordem “Deita”.
Quando o animal estiver deitado, felicite-o fazendo carícias.
“Fica” ou
“Quieto”: Faça o cachorro sentar-se completando a ordem “Senta” com
“Quieto”. Movimente-se alguns centímetros á volta dele e se ele se levantar ou
o seguir diga-lhe “Não” e volte a coloca-lo na posição inicial, repetindo
“Senta Quieto”. Á medida que o cachorro for evoluindo na aprendizagem deste
comando, distancie.se cada vez mais.
- Como fazê-lo obedecer á chamada?
- Mais do que uma ordem, a chamada é um convite para
o animal regressar para junto do dono, o que é útil em situações do dia-a-dia
que possam constituir um perigo. A chamada deve ser relacionada com uma
situação positiva como o receber carícias ou recompensas.
- De início, realize as sessões de treino dentro do perímetro de casa (ambiente familiar para o cão), antes de levar o cachorro para o exterior com uma trela comprida.
- De início, realize as sessões de treino dentro do perímetro de casa (ambiente familiar para o cão), antes de levar o cachorro para o exterior com uma trela comprida.
- Comece por associar a chamada à administração do
alimento: uma segunda pessoa pode manter o cachorro á distância, enquanto
prepara a refeição do animal. De seguida, chame-o pelo nome e diga “Aqui”;
- Pouco a pouco, à custa de carícias, felicitações
e estímulos positivos, o cachorro percebe que ao escutar o comando “Aqui” deve
regressar de imediato para perto do dono.
- O objectivo do treino de obediência é ajudar o cachorro a ganhar auto controlo e confiança e
permitir ao dono gerir sem problemas inúmeras situações
de maneio que aparecem no do dia-a-dia.
- O programa de treino do
animal terá tanto mais sucesso, quanto mais cedo for iniciado, dado que
na fase de crescimento existe uma natural e uma maior capacidade para a
aprendizagem.
- Inicie os treinos com 3 sessões diárias de 5 minutos e depois poderá aumentar progressivamente o tempo e a dificuldade dos exercícios á medida que o animal vai crescendo. Os animais adultos são capazes de ser treinados com a mesma eficácia que os cachorros, apenas a velocidade de aprendizagem poderá ser menor. No caso dos animais com patologias comportamentais, em que a capacidade de concentração está normalmente afectada, a velocidade de aprendizagem também é menor.
- No início do programa de
treino premeie o animal sempre que ele realiza o comportamento pretendido.
Reforço
positivo: Os alimentos como os biscoitos para cão
constitui a principal motivação para muitos cães, mas não são a única
fonte de recompensa. Pode usar outras formas de recompensa durante o treino
como dar atenção e realizar jogos e exercicios. Para determinados cães a
atenção humana e os jogos são recompensas tão importantes como a comida.
- Para além do valor do alimento fornecido, o dono
deve prestar atenção ao esquema de
recompensa utilizado. Quando o animal já está numa fase avançada do
programa de treino que realiza sempre o comportamento desejado após ordem,
dever-se-á transitar para um sistema de
recompensas intermitente, por exemplo, o dono passa a dar a recompensa 1 de
cada 10 vezes que o cão obedece. Este esquema aumenta a motivação, porque o cão
é incapaz de prever quando irá obter a recompensa e realiza este comportamento
com mais frequência no intuito de a receber. Por outro lado, também reduz o
risco de o comportamento desaparecer do repertório do animal, porque ele não
consegue antever quando é que será premiado por uma nova manifestação desse
procedimento.
- Punição do cachorro:
- Quando o cachorro faz
algo errado o castigo deverá ser instituído de imediato e se este for apanhado
em flagrante. Os cachorros fazem associações directas, ou seja, tem
pensamentos do tipo causa/efeito, pelo que a punição realizada a posteriori não fará com que este
aprenda qual o comportamento incorrecto e qual o correcto. Além do mais, os
castigos a posteriori podem provocar
ansiedade ao animal pois este não compreende a sua atitude.
- É sempre preferível a recompensa por um bom
comportamento ou o ignorar de uma reacção inesperada do que o castigo. O
castigo deve reservar-se para as situações mais desagradáveis ou as que ponham
em perigo o animal.
- O castigo pode ser directo, por exemplo
agarrando-o pela pele do pescoço e sacudindo-o ligeiramente (reproduzindo assim
o comportamento da mãe) ou batê-lo com um jornal. Nunca deve batê-lo com a
intenção de o magoar.
- O castigo
deve cessar logo que o animal evidencie uma postura submissa (deita-se ou urina de medo).
- O dizer
“não” ao cachorro quando faz algo proibitivo deve começar logo desde o primeiro dia da chegada á casa e deve ser
associado a qualquer proibição, independentemente da sua natureza. Deve ser
pronunciado num tom de voz firme e inequívoco sempre que o cão cometa uma acção
proibida.
Apesar do animal puder exibir aquilo que os donos
descrevem como “ar de culpado”, quando a
punição é deslocada no tempo, este não tem noção do erro cometido e todas as posturas
corporais que apresenta são compreendidas pelo cão que o dono está desagradado
com ele e prestes a repreendê-lo. Os castigos aplicados desta forma podem criar
ansiedade ao animal, porque este não consegue compreender a ligação entre a
acção indesejável e o castigo.
- Tem de haver uma coerência nas regras, com a
prática de “nunca é nunca”, ou seja, se algo não for permitido ao cachorro (ex: acesso ao sofá
ou quartos), tal não poderá ser permitido nunca, porque se o é umas
vezes e outras não, o cão irá sempre tentar fazê-lo dado que não sabe se a
resposta do dono irá ser positiva ou negativa e só depois o irá avaliar ao ser
corrigido ao não.
Estabelecer rotinas e regras coerentes aumenta a
possibilidade de o cachorro prever o que sucede no ambiente e é uma fonte de
segurança. Um dos erros mais frequentes é pensar que só se trata de um cachorro
e que podemos ser um pouco menos estritos com ele. Se morde ou rói algo achamos
normal, pegamos nele ao colo, dormimos com ele, permitimos coisas que ao
crescer não poderá fazer.
- O local de descanso, o
chamado “ninho”, não deverá constituir o lugar de castigo, ou seja, o
cachorro nunca deve ser mandado para lá após uma repreensão, pois deste modo, este será associado a algo
negativo e poderá deixar de ser procurado para dormir.
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A mudança das regras faz com que o cachorro seja ainda mais desobediente (os donos habitualmente referem que “ele é muito teimoso”), faz com que o treino de higiene (o aprender a urinar e a defecar nos locais correctos) seja mais demorado e faz com que as chamadas “asneiras” sejam mais frequentes. Isto acontece pelo facto de que o cão não entende porque antes podia estar/fazer/ter de uma determinada forma e de repente tudo muda.
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-Uma vez que, cada cão é um caso único, se não souber como proceder para educar o seu cão, poderá recorrer à ajuda de profissionais. Em Portugal, existem inúmeras instituições que se dedicam ao treino de cães. Informe-se
Artigo escrito por Sandra Oliveira – médica veterinária (CP
4910)
Clínica Veterinária de
Mangualde
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